Condomínio dos Líderes

Pagou o táxi quando ele estacionou na frente do condomínio, descendo e pegando a bolsa, caminhando em passos duros em direção à casa dos pais, mal esperando quando chegou lá e sem bater na porta, adentrando no escritório, onde tinha certeza que o pai estava; — Eu não sei se você sabe, mas quando se tem mais de 1000 anos, as pessoas podem escolher onde trabalham. E não precisam dos pais as suspendendo do que amam fazer, por Deus sabe-se-lá-o-que!

O homem massageava as têmporas no momento em que viu a filha entrar na sala. E depois de alguns segundos encarando a cena voltou a massagem, dessa vez mais intensamente. ー Você pode ter 3000 anos e isso nunca te dará o direito de desrespeitar seus pais. Então abaixa as asas para falar comigo, Faith. ー Apoiou os cotovelos na mesa para então unir as mãos em frente ao rosto. ー Veio aqui saber como seus pais estão? Não, provavelmente veio pedir alguma coisa, só sabe fazer isso não é mesmo?

Conteu a vontade de revirar os olhos para o homem mais velho, porque, apesar de brava, sabia que o homem sempre havia lhe dado tudo, e a tratado bem. — Desculpa, papai. — Falou baixinho, se aproximando e sentando numa das poltronas à frente a mesa do homem, colocando as mãos nas pernas e brincando com a bainha do jaleco — Como você está? Parece estressado, digo, mais agora. E a mamãe, ela está... bem..? — Perguntou sem jeito, engolindo a seco. Tinha na realidade medo de saber o estado da mãe. — Eu não vim pedir nada. Só... Confirmar. Disseram que foi seu pedido eu ser suspensa... — Sussurrou mais baixo ainda. Parecia que ali, naquela casa, toda a alegria da pequena Faith era drenada.

Um suspiro pesado acabou escapando quando viu a filha ceder. Ele se endireitou na caeira e arrumou alguns papeis antes que ela se sentasse. ー Agora que você saiu do hospital ela se recuperou do mal estar de sempre. Está acreditando firmemente que irá finalmente trabalhar conosco. ー Estalou a língua e ergueu as sobrancelhas, sabendo que aquela possibilidade era praticamente nula. ー Embora você tenha estrutura mais do que suficiente para não trabalhar. ー Voltou a tom mais sério e expressão fechada ao ouvir sobre o hospital. Ficou alguns segundos em silêncio, formulando uma resposta para dar a filha. ー Não foi isso que me foi dito, me ligaram a pouco tempo dizendo que você se demitiu. Por isso sua mãe está em polvorosa.

Faith permaneceu em silêncio por longos minutos, mesmo após o pai parar de falar. Esfregou o rosto lentamente, encostando-se na cadeira e respirando fundo, sem saber o que dizer. Ficou assim por mais um longo tempo, batucando os dedos sobre a madeira da mesa do escritório. 

— Vocês querem que eu assuma a liderança? — Perguntou por mim, olhando-o.

O homem riu da pergunta, e forma tão natural que chegava a ser irritante. ー Não chegaria a tanto, eu e sua mãe ainda estamos aqui afinal, e pretendemos ficar por um bom tempo ainda. Você ainda é uma criança. ー Então começou a arrumar algumas coisas em sua mesa, como canetas e cartões. ー Apenas foque em outra coisa que não seja aquele hospital, nossa raça tem tanto potencial, deixe aquele assunto para os humanos, sim?

Um suspiro de alívio passou pelos lábios da moça, que de repente, se afundou na cadeira. Estava completamente aliviada e feliz de não ter que assumir a liderança. — Certo. — Deu um leve sorriso, levantando-se da cadeira onde estava — Vou ver a mamãe. Onde ela está? — Perguntou calmamente, pegando o celular do bolso, começando a se agoniar por não receber uma resposta de Dimitri.

A testa do homem franziu instantaneamente, mas relaxou na mesma velocidade. ー Resolvendo alguns assuntos políticos, mas eu aviso a ela que esteve aqui e podemos finalmente marcar um jantar em família sem se preocupar com turnos noturnos infinitos.

A expressão de tristeza se apossou do rosto de Faith, que assentiu, baixando o olhar e preparando-se para pegar o táxi para a própria casa. Hoje o dia estava sendo extremamente ruim, e não ter nenhum sinal de vida de Dimitri fazia com que a vontade de chorar da pequena Stellae aumentasse. Engoliu a seco, dando meia volta; — Não tem mais nada que você queira me falar? 

Com um sorriso ensaiado e com as mãos juntas abaixo do queixo ele apenas a encarou e respondeu.  ー Sim, é só isso.